NOSFERATA
VOLUME I – GUERRA DE SANGUE
CAPÍTULO 01 – TRANSFORMAÇÃO pt. I
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Aquela noite se parecia com uma noite qualquer, numa cidade qualquer no continente europeu, mas Mandor sabia que não era. Não saberia dizer por que, sabia apenas que Gerald Fuller, aquele a quem respondia hierarquicamente, não o enviaria à captura de um mortal sem um motivo plausível e razoável.
Por ter sido transformado por Fuller, a Mandor cabia apenas executar suas ordens sem questionar. Era assim que funcionava na Kalmasia, sua família, seu clã.
Faltavam dez minutos para a meia-noite. Trevor detestava andar pelas ruas à meia-noite em ponto. Não tinha nenhuma explicação para isso, mas se considerava um cara supersticioso e isso já lhe bastava como um motivo convincente para detestar aquele horário. O fato é que, supersticioso ou não, Trevor sentia calafrios e desconfortos se estivesse na rua àquele horário.
Naquele dia, saindo da faculdade, ao invés de ir direto para casa, resolveu acompanhar uma colega de classe até seu ponto de ônibus, e lá esperou até que ele passasse. Após se despedir, Trevor percebeu que havia perdido o ônibus que pegava regularmente no mesmo horário para ir para casa e teve que esperar bastante pelo próximo. Apesar de muito incomodado com o horário, ele tinha a sensação de que valera a pena, pois sabia que rolava um clima entre ele e Mandy Cyrus, sua tal colega, e que ainda teria a chance de beijá-la. Só não o fazia ainda, pois, como estudariam juntos ainda por mais três anos, achava melhor ir com cautela para não criar maiores problemas futuramente.
Trevor atravessava a praça. Já estava quase em casa. Eram os dois derradeiros minutos daquela segunda-feira e ele sabia que seriam suficientes para que alcançasse sua casa. A praça estava deserta, era mal iluminada e a vegetação seca do outono não contribuía nem um pouco. Os canteiros da praça eram exuberantes, a contornavam por inteiro, deixando seu centro completamente encoberto para quem olhasse de fora. Mesmo tendo consciência de que não era uma boa idéia passar por dentro daquela praça, Trevor o faz, calculando que se desse a volta por fora dela seriam necessários mais do que dois minutos para adentrar sua casa.
Ao atingir o centro da praça deu uma olhada reconhecedora ao redor, sem parar de andar. Nada viu, mas, quando vira-se novamente para a frente, topa com Mandor. Por uma fração de segundo ele para, assustado. Rapidamente desvia o olhar do rosto de Mandor e continua a caminhar.
- Boa noite. – diz Mandor em tom de cobrança.
- Boa noite... – Trevor apenas responde, ainda sem parar de andar.
- Você poderia me informar as horas?
Ele olha o relógio que dizia vinte e três e cinquenta e nove.
- Meia-noite... – continuava a andar, mas vira-se para Mandor para responder.
O semblante de Mandor estava ligeiramente mudado ao que Trevor vira antes. Seus olhos pareciam brilhar no escuro, num tom muito claro, quase esbranquiçado. Ele tinha no rosto um sorriso sarcástico. Trevor sente um forte frio na barriga ao vê-lo daquele jeito.
- Ainda falta um minuto, não? – Mandor pergunta de forma irônica, mas sabendo que colocaria muito medo em Trevor.
Ao ouvir tais palavras, Trevor se apressa a correr, segurando a pasta que trazia a tiracolo com firmeza. Sente que um vulto parecia flutuar à sua direita. Olha rapidamente e apenas vê o rosto de Mandor em meio a algo escuro e esfumaçado. Ainda segurando firme sua pasta, dá uma pancada com ela naquela figura, sem desacelerar o passo. Enfia a mão esquerda no bolso e tira suas chaves. Para em frente à portaria de um prédio e olha em volta: nada. Rapidamente, abre a porta e entra, fechando-a logo em seguida. Ele ainda tenta observar a rua pelo vidro temperado da porta. Não conseguiria ver nada nítido, mas seria capaz de distinguir movimentos. Nada. Ele olha o relógio novamente, que marcava zero hora.
- Agora sim, é meia-noite.
Ao ouvir isso, Trevor instintivamente vira-se para trás, para o interior do prédio, deparando-se com Mandor, que apenas estende uma mão em sua direção, intencionando pegá-lo à força.
* * *
Jared era apenas um adolescente em seus dezesseis anos. Como qualquer adolescente, em seu quarto havia espalhado diversos itens à respeito de sua maior fascinação. Eram pôsteres, desenhos de personagens de filmes, bonecos e infinitos livros e revistas sobre vampiros.
Ele estava sentado à frente de seu computador quando ouve um estranho barulho. Parecia que o vento entrava pela janela e fazia algo balançar. Ele olha para a sua janela constatando que essa estava fechada. Ouve novamente o barulho. Chega em sua porta, que dava de frente à porta do quarto de sua irmã. A janela estava aberta, o barulho era a persiana sendo balançada pelo vento.
Ele ia entrar no quarto da irmã, mas hesita e volta para pegar uma coroa de alho que estava pendurada na cabeceira de sua cama e a coloca em volta do pescoço. Ao virar-se novamente para a porta, vê pelas sombras no quarto de sua irmã um vulto passar pela janela. Viu nitidamente metade do corpo do que parecia ser uma pessoa, com cabeça e braços. Ele toma um tremendo choque, arregalando os olhos. O vento faz com que um galho da árvore que fica em frente a sua janela bata no vidro, fazendo barulho. Jared se assusta, mas nada vê em sua janela.
- Você não pode entrar! Você não pode entrar! – ele grita repetidamente, desesperado.
Em um único movimento super acelerado graças à overdose de adrenalina, ele fecha a cortina de sua janela e abre uma gaveta de sua escrivaninha, retirando uma estaca de madeira grossa e pontiaguda de dentro dela, correndo em seguida para o quarto da irmã. Chegando lá, ele rapidamente acende a luz e fecha a janela. Dá uma vasculhada com os olhos atentos e assustados pelo quarto.
- Você não pode entrar! – repete ele, ofegante pelo susto.
Jared fecha as persianas, e ao apagar a luz saindo do quarto da irmã, ouve um outro barulho, vindo da porta principal do apartamento. Parecia que alguém tentava forçar a fechadura. Ele caminha sorrateiramente até a sala de estar, sem fazer barulho algum, ainda carregando a estaca. Permanece ao lado da porta de modo que quando essa se abrisse, o esconderia. Fica imóvel e preparado para o ataque. Quando a porta se abre Jared pula sobre o invasor apontando-lhe a estaca no peito, gritando como um indígena:
- Você não pode entrar!
- Jared! – grita o invasor assustado com tal reação.
O invasor se tratava de Kayla, a irmã mais velha de Jared, que todas as noites saía com o namorado e ficava de amassos dentro do carro por horas.
- Kayla? – Jared sente-se confuso.
- É claro que eu posso entrar! Eu moro aqui!
- Achei que fosse um vampiro...
- Você realmente precisa parar com essa baboseira toda de vampiros, Jared! Já te disse que isso não existe!
- Mesmo se não fosse um vampiro poderia ser um ladrão ou sei lá o quê!
- No mesmo horário que eu chego todas as noites eu acho muito difícil ser alguém além de mim...
Kayla fechava a porta, ainda nervosa com o susto que levou do irmão.
- E eu duvido que você conseguiria se defender de um ladrão com isso, se não tivesse a real intenção de matá-lo! – diz Kayla apontando para a estaca.
Jared dá uma risadinha meio amarela, demonstrando que ignoraria o comentário.
- Você fez um barulho estranho, parecia que estava forçando a fechadura.
- E estava mesmo. – Kayla mostra sua chave torta – Minha chave agarrou. Amanhã preciso mandar fazer outra.
Ambos seguem, cada qual para seu quarto. Kayla ia trocando de roupa enquanto Jared volta para o computador.
- A sua janela esteve aberta o dia inteiro. – diz Jared.
- Não. Eu abri quando cheguei do trabalho e esqueci de fechar quando saí com o Dylan.
- Você devia ter mais atenção. Já parou pra imaginar o perigo que nós corremos com isso?
- Ah Jared, por favor, nós estamos no terceiro andar!
O prédio em que Kayla e Jared moram é um daqueles prédios antigos, típicos da região central da cidade. Em formato quadrado, com grandes portas e janelas de madeira, primeiro andar térreo, escada com alguns poucos degraus na porta de entrada... Apesar do terceiro andar ser baixo, não era fácil escalar tal tipo de construção, cuja fachada é praticamente lisa. E mesmo as árvores não eram fortes o suficiente para alguém subir por elas. Isso trazia a Kayla um certo conforto, mas que não se aplicava às reais preocupações de Jared:
- Não são só os ladrões que oferecem perigo, Kayla.
Kayla sai de seu quarto já de roupa trocada e senta-se sobre a escrivaninha do irmão, de frente para ele.
- Me escuta com bastante atenção... mamãe e papai não estão aqui mais e nunca mais vão estar. Agora somos só eu e você e eu dou graças a Deus que quando eles se foram eu já havia completado meus dezoito anos. Porque eu já era maior de idade e pude me responsabilizar por nós dois. Se fosse antes disso sabe Deus onde estaríamos hoje! Olha, eu sei que isso não tem sido nada fácil para você, pra mim também não é. Eu preciso que você me ajude...
- Kayla, você está viajando. – diz Jared em tom terno – Você manda muito bem como irmãe.
Kayla sorri e eles se abraçam.
- Por favor, só me prometa que vai maneirar com essas histórias de vampiros... – Kayla faz cara de piedade.
- Você devia prestar mais... – ele ia retrucar, mas é interrompido por uma cara de piedade ainda mais forçada.
- Por favor...
Eles se olham um tempo assim até que Jared não segura e começa a rir, fazendo-a rir em seguida.
- Tá bom!
- Ah...eu passei na locadora e trouxe alguns filmes, vamos ver? Você faz o suco e eu faço a pipoca.
Jared levanta-se rapidamente e corre para a cozinha.
- Ei, isso não é justo! – ele reclama em tom de brincadeira – Não existe suco de microondas!
- Mas eu já tive o trabalho de ir na locadora.
- Que trabalhão, hein? Entrar no carro do namorado e simplesmente aparecer na porta da locadora não me parece muito trabalhoso.
- Ai, mas eu estou cansada mesmo assim...
- Sei muito bem o que te cansou no carro do seu namorado... E não foi o caminho até a locadora!
- Jared!
Mesmo em tom de brincadeira, Kayla se irrita com a piada do irmão e tenta lhe dar um tapa no braço. Ele se desvia do tapa e corre para a sala. Ela o persegue e ao alcançá-lo, puxa-o de uma forma que ele cai deitado no sofá. Em meio a gargalhadas, os dois iniciam uma guerra de almofadas. A janela da sala estava fechada, mas a cortina aberta. Pelo vidro via-se as folhagens da mesma árvore que tocou a janela do quarto de Jared. Nem ele nem Kayla percebem em meio à brincadeira, mas havia um rosto oculto entre tais folhagens, apenas observando.
* * *
Lucas amava seu trabalho. Divertia-se durante toda a noite fazendo drinks e encantando os clientes de uma casa noturna, onde trabalhava como bartender. Sempre que sentia que ia mal de gorjetas, pegava umas garrafas e com uma absurda habilidade fazia um pequeno espetáculo de malabarismos. Ele sempre trabalhava sorridente, contente, entusiasmado. Mas não naquela noite. Aquela noite era diferente, ele sentia-se cansado, com o corpo pesado. Parecia que algo imenso lhe caíra sobre os ombros. Inexplicavelmente uma certa ansiedade de sair dali e uma angústia terrível se apossaram dele. Ele se sentia numa situação desesperadora.
- Você está bem? – seu colega de trabalho percebe algo estranho.
- Tô... – Lucas dá uma rápida revirada de olhos.
- Tem certeza?
- Não. Na verdade eu tô me sentindo meio mal...
- Vai se sentar um pouco. Aqui tá tranquilo, eu me viro.
Lucas considera uma boa idéia descansar um pouco. Estava meio tonto. Quando virou-se para deixar o balcão do bar, vê uma linda jovem, que aparentava mais ou menos sua idade, longos cabelos castanhos e olhos verdes. Seus lábios eram carnudos, porém sem cor. E sua pele era extremamente branca. Ela olhava fixamente para ele. Lucas olha de volta e a encara no fundo dos olhos. Ele se pergunta se não estava tendo devaneios, pois podia jurar ter visto seus olhos se transformando em algo brilhante e esbranquiçado.
Lucas tenta se recompor para sair dali, mas assim que tenta mover um músculo, não consegue, estava totalmente imóvel. Sua visão se embaralha de vez e ele se sente adormecer. Quando ele abre novamente os olhos, se vê numa sala estranha, pomposa, totalmente adornada de luxo. Sem fazer idéia de quanto tempo se passou, ele estava deitado numa espécie de maca, com as pernas, braços, cintura e pescoço atados. Mas não eram as fivelas que o impediam de se mexer, era outra coisa. Nem seus dedos respondiam aos seus comandos de movimentos.
- Indelina. – lhe diz uma voz feminina vinda do outro lado do quarto.
Lucas procura a dona da voz, mas não consegue mexer o pescoço. Porém, logo ela surge em sua frente, observando-o: a mesma mulher do balcão do bar.
- Uma espécie de veneno desenvolvido à partir de nossa saliva.
O olhar de Lucas demonstra medo.
- Não se preocupe... – diz ela entre risadas molecas – Não é letal, apenas paralisa o corpo por umas duas horas. A indelina usada hoje em dia já é bem aperfeiçoada. As primeiras versões eram terríveis, paralisavam o cérebro, coração, pulmões... Inevitavelmente levavam à morte. Hoje em dia temos mais tecnologia para evitarmos isso...
Ela olha o relógio.
- São duas horas da manhã. – ela continua – Faltam ainda uns vinte minutos para você recobrar os movimentos. Uma coisa que ainda não sabemos são os reais efeitos da indelina na circulação, porque não costumamos muito usá-la em gente viva... Então eu vou fazer o seguinte: você vai olhar para mim e me convencer que está prometendo não fugir quando recobrar os movimentos se eu desatar as amarras agora.
Ela encara-o nos olhos, porém, nem esses Lucas era capaz de movimentar.
- Você não está me convencendo... – diz ela – Ah, que seja! Te garanto que nessa casa você está mais seguro dentro desse quarto do que fora dele.
Ela solta todas as amarras de Lucas, de maneira lenta e sensual.
- Aposto que se não estivesse paralisado a essa hora haveriam movimentos aqui...
Ela pega em seu pênis.
- É uma pena... – ela vai saindo – Volto em vinte minutos, não se mexa daí!
* * *
- Andora, aguardava apenas você. – um homem negro de aparentemente quarenta anos, alto, bonito e em ótima forma se dirige à mesma moça que acabara de deixar Lucas na outra sala.
Ela entra na sala onde estavam esse homem e mais três jovens de sua idade. Mandor, um outro rapaz loiro e uma jovem, morena de olhos negros, a dona do rosto oculto na janela de Kayla e Jared.
- Quero saber se os três já foram trazidos. – pergunta o homem.
- Trevor já está aqui, Gal. Fuller. Bem amarrado. – diz Mandor.
- Ótimo, Mandor. Essas são realmente boas notícias. Jannid, trouxe Kayla?
- Não, senhor. – a morena responde de maneira um pouco ríspida.
- Como não? O que aconteceu?
- Não tive oportunidade.
- Jannid, ela passa boa parte da noite dentro do carro com o namorado na porta do prédio. – diz o loiro.
- Se te parece tão simples assim, por que você mesmo não vai pegá-la? – retruca Jannid.
- Jannid, qual foi o problema? – Fuller é enérgico.
- A hora ideal para pegá-la é quando ela está no carro com o namorado, mas eu não consegui ver meios de pegá-la sem que ele me visse. Não concordo que a vida dele deva ser envolvida nisso.
- Ah! É muito fácil distrair o cara para que ele saia do carro e pegar a garota! – diz Andora.
- Para dizer isso, imagino que o seu já esteja aqui também.
- Sim, está. – responde Andora – Lucas precisa apenas de uns vinte minutos para se compor, ele está um pouco parado agora...
- Você usou indelina nele? – pergunta Fuller.
- Usei, mas foram só umas gotinhas.
- Você sabe que os efeitos da indelina em mortais ainda não são totalmente conhecidos, não é? – pergunta Jannid.
- Gente, sem drama! Ele está bem.
- Jannid está certa, Andora! – diz Fuller – Pelo menos nisso. Vamos aguardar pelo momento certo, enquanto isso, Andora e Mandor, cuidem de suas crias. Andora, fique cem por cento atenta às reações de Lucas, ele pode ter uma complicação com indelina a qualquer momento. Ron, quero que você traga Kayla.
- Sim, senhor... – o loiro se levanta e sai.
- E você, Jannid, fica aqui para conversarmos...
- Agora não. – ela ia saindo também.
- Eu não vou tolerar tanta insolência! – diz Fuller energicamente, fazendo-a parar e virar-se para ele de novo.
- Senhor, eu não sei se me encaixo nesse grupo.
- É claro que se encaixa, Jannid. Você foi criada para isso. Escolhida e transformada por mim.
- Ah sim, transformação... Claro... – Jannid diz irritada.
- Qual é o problema com a transformação?
- É apenas um eufemismo para uma atitude hedionda!
- Transformar um mortal em um Nosferatu é uma caridade! Não há nada de hediondo nisso!
- Transformar um ser criado por Jeovah à sua imagem e semelhança nesse monstro que somos?
Fuller fecha as portas da sala e em uma velocidade incrível da um tapa no rosto de Jannid.
- Nunca mais torne a repetir o nome Daquele vaidoso. O que você procura? Sua morte? Pois é o que irá conseguir agindo desse modo. Você sabe muito bem que o seu próprio clã pode pedir sua cabeça pelas blasfêmias de pronunciar o nome de nosso maior inimigo dentro do nosso próprio ninho!
- Claro! A Kalmasia sempre controlando nossas vidas!
- A Kalmasia é sua família, Andora! – Fuller mostrava-se extremamente ofendido – Nós cuidamos uns dos outros, garantimos nossa defesa e sobrevivência num mundo que está repleto de inimigos perigosos! Você sabe que é extremamente importante respeitar a hierarquia e seguir as ordens à risca para que nossa família não se enfraqueça e se torne vulnerável.
- E pronunciar o nome Dele é causa suficiente para matar um membro da família? – ela pergunta retoricamente, em tom de deboche.
- É uma maneira de nos preservar. Quando tal nome é dito os Anjos podem ouvir. E se ouvirem, descerão no mesmo instante e nos matarão a todos! É isso o que você quer?
- Não, senhor eu só...
- Temos sorte por aqueles bundões não olharem para a Terra o tempo todo.
- Me desculpe... Eu extrapolei um pouco hoje...
- Na verdade eu entendo. Todo o seu fracasso se deu pela sua negação de transformar Kayla. Se o problema fosse a prole era fácil, mas o problema é a transformação.
- Eu não me sinto mais feliz como Nosferatu. – Jannid se mostra realmente triste – Às vezes gostaria de ser mortal novamente, inocente, alienada, esperançosa. Queria poder andar livremente pelas ruas, sem precisar esconder minha verdadeira face, ver a luz do sol, o nascente numa montanha em pleno inverno, o poente numa praia no auge do verão... Ah, não tem nada mais bonito do que esses dois momentos! E eu sinto falta disso!
- Isso é uma fase, Jannid. Você não é tão velha quanto Mandor e nem tão nova quanto Ron e Andora. É normal na existência de um Nosferatu chegar numa certa fase em que todo o glamour e a novidade já acabaram e o desgosto se apodera de nós. Eu já passei por isso, Mandor também, recentemente. Daqui a um tempo será a vez de Ron e em seguida, Andora.
- E como se enfrenta isso?
- A maioria opta por estabelecer objetivos de longo prazo.
- Quais foram os seus?
- Vencer essa guerra.
- Essa guerra... – Jannid fica reflexiva – Nem sabemos ao certo se ela existe. Se é uma ameaça. Se vai começar ou se já começou.
- É uma ameaça verdadeira. Essa guerra vai começar, filha. Pois essa ameaça tem nome: Vaughn Krieg.
- General Krieg, do clã Romerna?
- Ele mesmo, Jannid. Ele mesmo...
* * *
Jared cochilava no colo de Kayla. Ela desliga a televisão e acorda o irmão.
- Ei, vamos pra cama!
- Putz, perdi o final do filme...
Eles riem.
- Você não aguenta nada mesmo... – diz Kayla.
- Não é você que acorda às seis da manhã todo dia.
- Ih, pelo visto amanhã você também não acorda esse horário!
Mais risos.
- Você que pensa. Acordo sim...
Jared se deita e Kayla chega à porta do quarto dele.
- Quando é que você vai parar com essa mania de querer que apague a luz e feche a porta todos os dias? – pergunta Kayla – Se seus amigos descobrirem isso você vai ter que aguentar muita piada...
- Eles não vão ficar sabendo disso... O que tem? A mamãe, todas as noites, vinha me dar um beijo de boa noite, apagava a luz e fechava a porta. Mesmo quando eu já tinha crescido. Tudo bem que eu já havia pedido a ela para não fazer mais isso...
Exatamente nos últimos dias de vida de seus pais Jared havia feito esse pedido. Kayla sabia disso perfeitamente, pois estava com seu pai na cozinha, e ainda se lembra de rir do irmão. E Jared, no fundo queria que sua mãe ainda estivesse ali todas as noites, fazendo as mesmas coisas.
Kayla olha comovida para o irmão. Adentra o quarto e lhe dá um beijo na testa, olhando-o nos olhos com ternura. Caminha de volta até a porta.
- Boa noite, Jared...
- Boa... – um barulho interrompe a fala de Jared.
Era o celular de Kayla. O número estava oculto. Ela atende curiosa.
- Alô? Hã? Oi, claro... Mas o que... Tá, bom, tô indo... Calma! – ela desliga.
- O que foi?
- Era o Dylan! Disse que daqui a cinco minutos passa aqui em casa e quer que eu desça. Ele tem algo muito importante pra falar comigo e não pode ser por telefone.
- Eu hein? Que cara estranho! Tem certeza que você gosta dele, Kayla?
- Absoluta! Sabe quando você sente que encontrou a pessoa perfeita?
- A única vez que senti isso foi quando perdi minha virgindade e tenho certeza que estamos falando de coisas bem diferentes.
- É, realmente... – risos – Mas enfim, ele é super carinhoso, engraçado, me trata bem... É um amor de pessoa. E aliás, todo mundo fala que ele está super apaixonado e que eu estou fazendo muito bem a ele!
- Bom, se isso tudo for verdade mesmo... Mas deve ser. Esse namoro pelo menos tá durando bem mais que seus últimos cinco relacionamentos.
- Aquilo foi uma fase negra na minha vida que já passou! Agora estou vivendo meus anos dourados! Por enquanto ainda são meses, mas serão anos, te garanto!
Jared ri.
- E ele? Te faz bem também? Você gosta mesmo dele?
- Jared, ele vai me fazer descer às duas e meia da madrugada com essas roupas de moletom. Você acha que eu gosto dele?
Jared ri, constatando o óbvio. O celular dela toca novamente.
- Oi? Tô descendo... – ela desliga.
- Me conta tudo, hein? Tô curioso!
- Pode deixar, mas eu conto amanhã. Vai dormir, agora... – Kayla ia apagar a luz, mas hesita – Te amo.
- Também te amo.
Ela apaga a luz, fecha a porta e sai.
Kayla sai pela portaria de seu prédio estranhando não ver o carro de Dylan estacionado na rua.
- Dylan? Dylan?
Em seu quarto, apesar do sono intenso que sentia, Jared não conseguia dormir. Pensava em algumas coisas. Na morte de seus pais, em morar com a irmã, no futuro dos dois. Ouve a voz de Kayla ecoar pela rua que era um verdadeiro canal formado por vários prédios:
- Dylan!
Procurando insistentemente pelo namorado, Kayla começa a descer os degraus da escadaria do prédio. A rua fazia uma curva. O fim da quadra só podia ser visto do meio da rua. Durante o dia, às vezes Dylan parava o carro na esquina, pois não conseguia vaga mais perto. A tola esperança de avistar o namorado na esquina tentando surpreendê-la a motiva descer o último degrau e caminhar até a rua. Nada vê.
- Dylan, cadê você?
- Sinto muito, ele não vem! – Ron surge do nada, agarrando-a.
Jared estava em sua janela, tentando observar a rua, pois ouvira demasiadamente os gritos de Kayla por Dylan. Ele a vê no meio da rua com um homem desconhecido. Ouve seu grito de pavor e simplesmente vê ambos desaparecerem como simples vultos. O rosto de Jared expressava o mesmo pavor que havia no grito de Kayla.
Munido de sua estaca e o colar de alho, ele desce velozmente os três andares pelas escadas e ganha a rua.
- Volte aqui! – ele gritava – Cadê a minha irmã?
Alguém faz um forte “sh”, mandando-o calar a boca.
- Kayla! – Jared grita desesperado sem nem se importar com as vozes pedindo silêncio. Gritava ofegante enquanto olhava para todos os lados na esperança de encontrá-la.
- Cala a boca, moleque! – grita um vizinho.
Jared está completamente confuso. Ele não acredita no que viu. Anda de um lado para o outro sem rumo. Dá um passo e pisa em algo. Olha para o chão e vê que era o celular de Kayla. Ele pega e tenta ligar para o último número de chamada recebida, o número de Dylan. Porem, percebe que as duas últimas chamadas foram originadas de um número oculto. Procura pelo número de Dylan, que atende morto de sono.
- Oi amor... – ele responde.
- Dylan, é o Jared, irmão da Kayla.
- Oi, Jared. Aconteceu alguma coisa?
- Cadê você? Você disse que viria...
- Como assim? Iria aonde?
- Ela me falou que você ligou dizendo para descer e que era urgente. Eu a vi da janela sendo agarrada por um outro cara, um loiro e eles simplesmente desapareceram.
- Como assim, desapareceram?
- Sumiram, como fumaça! Ela gritou e deixou o celular cair. Só isso, cara! Sumiram! Eu vi tudo... Sumiram!
- Onde você está?
- Na rua, em frente ao prédio.
- O que você esta fazendo? Corre para a casa e tranque tudo. Eu já estou indo aí. Mas fique de olho na rua pela janela para ver se a Kayla aparece! – Dylan disse sem ainda entender a situação, ainda estava com sono e confuso o suficiente para não perceber como Jared havia narrado o desaparecimento de Kayla.
Pela primeira vez Jared se dá conta que está sozinho, no meio da rua, em plena madrugada e que sua irmã fora sequestrada por um potencial vampiro.
* * *
PRÓXIMO POST: 00:00h do dia 08 para o dia 09 de fevereiro
História original: Mário de Abreu
Escrita por: Mário de Abreu e Junim Ribeiro
Agradecimentos: Léo Borlido e Renata (pela comunidade no Orkut)
Depois de muita luta....nasceu!!!!
ResponderExcluirsejam bem vindos
Parabéns...ótima história....
ResponderExcluiraguardo novos posts.
Bacana, envolvente, estilo André Vianco, na verdade eu quero o livro todo, aí eu posso engolir as páginas sem ter que ficar esperando
ResponderExcluirHehehe se tudo der certo em breve Léo...vamos chegar ai...contamos com vcs
ResponderExcluirmuito boa, adoro historias sobre vampiros, e olha que eu nem gosto de ler, mas essa historia me prendeu a leitura
ResponderExcluirÉ por essas e outras que digo: Crepúsculo de cú é rôla!!!! isso sim é narrativa! já quero mais!
ResponderExcluirótima história mas não sei bem o que dizer dela,é muito mais que perfeita
ResponderExcluirótima história, adorei
ResponderExcluirNossa.. Otima História... Bem envolvente Mesmo.. bem profissinal..
ResponderExcluirvc ja escreveu algum Outro Blog do tipo? To muito interessado na Sua Literatura e Ansioso Pela continuação Dessa!
Indicarei aos Meus amigos da facu! .. Sucesso!
Otima istória gostei muito, estou indo ver a outra parte agora mesmo!rsrsrsrsrs
ResponderExcluirPessoal, muito obrigado pelos comentários super positivos! A gente realmente precisa desse feedback de vocês! @toabafadaaa, esse é o nosso primeiro blog sim, apesar de existirem outras histórias com outros temas é a primeira vez que estamos difundindo o trabalho.
ResponderExcluirseguidores da noite amei a narrativa breve estarei lendo a proxima.
ResponderExcluirnossa esta historia é ótima amei!!!
ResponderExcluirmal espero para ler o proximo capitulo dela :D