Nosferata

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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Cap. 01 pt. II - Transformação. Nosferata Vol. I - Guerra de Sangue: Sociedades

NOSFERATA

VOLUME I – GUERRA DE SANGUE: SOCIEDADES

CAPÍTULO 01 – TRANSFORMAÇÃO pt. II


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Alice Parker se debatia com extrema força em sua cama. As janelas estavam escancaradas e por elas um forte vento entrava em seu quarto, fazendo as cortinas esvoaçarem. As luzes da rua faziam jogos de sombras um tanto bizarros ao se misturarem às penumbras nas paredes. Alice, mesmo amarrada com cordas à estrutura da cama pelos pulsos e tornozelos, fazia movimentos bruscos, que em certos momentos tomavam força suficiente para arrastá-la. Os pés da cama arranhavam o assoalho, fazendo barulho agudo. Alice tinha o semblante pálido, suava bastante, como quem estivesse sob uma impiedosa febre. Seus dentes se destacavam em sua boca aberta, onde a língua se debatia junto com o corpo, em movimentos obscenos, entre sorrisos que variavam do macabro ao sarcástico. Raramente uma risada diabólica surgia entre os constantes gemidos e grunhidos que proferia com voz rouca e abafada. Seus olhos estavam fundos e extremamente avermelhados. O azul de seus olhos havia tomado praticamente todo o espaço de suas pupilas, reduzindo-as a minúsculos pontos negros. Seus cabelos vermelho-fogo, naturalmente encaracolados formavam um emaranhado agressivo e perturbador por sobre sua cabeça, deleitando-se até os seios que, entre tantos movimentos violentos, começavam a despontar-se de dentro de sua camisola, que já estava entreaberta, até que por fim, um descobre-se totalmente, deixando o outro ainda vestido. Esta era a cena que Padre Livius e Padre Baltus presenciaram ao chegar no quarto da moça, guiados por Margareth Parker, sua mãe.
            - O senhor gostaria de me lamber, padre? – pergunta Alice em meio a risadas debochadas a Livius, ao notar que ele olhara diretamente para seu seio descoberto.

            Margareth era uma mulher moderna. Criara Alice sozinha, sua única filha. Não era divorciada, muito menos viúva. Apenas tivera relações com um homem que a abandonara ao descobrir sua gravidez. Demasiadamente ofendida para correr atrás de seus direitos, resolveu para sempre ignorá-lo e continuar sua vida, com sua filha. Desde então se acostumara a trabalhar em dois empregos e dormir apenas cinco horas por noite. Mas já estava habituada a essa vida. Alice já tinha vinte anos e há dois trabalhava num hotel para ajudar em casa. Margareth, apesar de ausente e atarefada, era uma mãe extremamente dedicada.
            Tudo começou há umas duas semanas. Alice chegara em casa de madrugada, pois às vezes pegava jornadas que se encerravam às quatro da manhã. No dia seguinte, perdeu a hora para ir trabalhar e levantou-se completamente indisposta. Reclamou de pesadelos. Assim se sucedeu durante uma semana. Após sete noites de sofrimento, Alice parecia ter piorado ainda mais. Margareth a visitou em seu quarto e notou-a queimando em febre, tendo delírios e se debatendo violentamente. Durante as últimas noites ela se comportou dessa maneira, tanto que fora amarrada à cama, para que não se machucasse. O mais curioso nesse fato é que a doença apenas se manifestava à noite. Durante o dia Alice ficava doce e sonolenta, porém antes que o sol se pusesse, Margareth corria a amarrá-la novamente.

            Livius e Baltus ali se encontravam na exata décima segunda noite. Baltus pede a Margareth que os deixe a sós com Alice no quarto. Ela o obedece, fechando bem a porta. Ele tinha em suas mãos uma Bíblia e Livius vários crucifixos. Enquanto Baltus fazia as preces, Livius repousava, um a um, os crucifixos sobre a testa, garganta, peito, ventre, mãos e pés de Alice.
            - Senhor que sempre olha por tuas criaturas, afasta as trevas dessa Tua filha e acolhe-a novamente em Teus braços. – Baltus inicia com a palma de sua mão esquerda erguida sobre o rosto de Alice – Ilumine, ó Senhor misericordioso, essa morada e subjugue o mal que aqui se instala. Revele a face do inimigo!
            Nesse momento, os crucifixos pareciam queimar a pele de Alice, que se contorce e urra de dor, mostrando, ao abrir a boca, que seus dentes pareciam um pouco mais pontiagudos do que o normal.
            - Ó Senhor, dono de nossos destinos, se for de Tua vontade, livre essa alma sofredora de tamanha maldição! – Baltus continua.
            O olhar de Alice muda e seus dentes e olhos parecem voltar ao normal.
            - Padre! – diz ela entre choros – Por favor, me ajude!
            - Desamarre-a! – Baltus ordena a Livius.
            - Mas, senhor... – Livius hesita, mas Baltus enfatiza.
            Livius a desamarra e, seguindo as instruções de Baltus, Alice se põe de joelhos na cama, frente a um crucifixo de madeira grande, que ele carregava agora no lugar da Bíblia.
            - Alice, repita comigo... – o padre inicia uma oração.
            De braços abertos, de frente ao crucifixo, Alice repete as palavras de Baltus:
            - Meu Deus, livra-me dos meus inimigos, protege-me dos meus agressores. Livra-me dos malfeitores, salva-me dos homens sanguinários pois eles espreitam minha vida! Os poderosos se reúnem contra mim sem que eu tenha pecado ou faltado. Sem eu ter culpa eles avançam para me atacar. Desperta! Vem ao meu encontro e olha, Deus dos Exércitos, levanta-te e castiga as nações todas, não tenhas piedade desses traidores! Eles voltam pela tarde, latindo como cães e rondam pela cidade. Eles alardeiam com sua boca, há espadas em seus lábios. Não os mates agora, para que meu povo não se esqueça. Torna-os errantes e derruba-os com teu poder. Cada palavra de seus lábios é um pecado de sua boca. Que fiquem presos no seu orgulho, na mentira e na maldição que proferem. Que tua cólera os destrua e que não existam mais!
            Dito isso, Alice desfalece sobre a cama. Mas agora sua aparência é saudável e seu semblante sereno. O vento cessa.


*          *          *


            Margareth Parker servia chá e bolo para os dois padres na sala de estar.
            - Ela ficará bem mesmo? – Margareth ainda demonstrava-se angustiada – Eu queria saber quando ela vai acordar e se vai acordar curada.
            - Sra. Parker, o exato momento em que sua filha acordará não podemos prever, mas nesses casos geralmente acontece ao amanhecer. – Padre Baltus responde – Mas posso garantir que ela acordará bem. E renovada! Não é mesmo, Padre Livius?
            Baltus chama propositalmente a atenção de Livius, que parecia estar com a cabeça longe dali.
            - Como é? – Livius retorna.
            - Eu explicava para a Sra. Parker que Alice amanhã se levantará bem disposta...
            - Ah, com certeza! – Livius prossegue a fala de Baltus – Em todos os casos como esses que já vimos o paciente acorda no dia seguinte revigorado, embevecido pelas belezas da vida e do mundo. Com certeza Alice vai querer fazer coisas que há tempos não faz como por exemplo colher flores ou ouvir os pássaros cantando, observar o vento movimentando a copa das árvores...
            - Essas belezas são pequenas porções do milagre da vida, Sra. Parker. – Baltus retoma – Doenças como essa que atingiram Alice são provenientes do mal, de coisas sem vida. Por isso depois da cura sempre vem essa retomada pela admiração ao mundo.
            - Os senhores insistem em tratá-la como paciente e àquela tal coisa como doença, mas eu estou bem convencida de que ela fora possuída por demônio. – afirma Margareth.
            - Minha senhora, não existem tais coisas. – afirma Livius.
            - Como não? – ela se espanta – A Bíblia afirma!
            - Antigas Escrituras Sagradas às quais temos acesso no Vaticano afirmam a existência de Satanás, que está confinado no inferno. – explica Livius – Afirmam que lá com ele agonizam as almas dos pecadores, sofrendo o castigo infringido pelos demônios dele, mas em momento algum afirma que tais demônios, almas sofredoras ou o próprio Diabo têm permissão ou sequer meios de atingir o plano terreno e de fato possuir o corpo de um filho de Deus. Salvo no Livro do Apocalipse, que narra que o único momento na história da Terra em que Anjos e Demônios coexistirão com os Homens na face desse mundo é durante o Fim dos Tempos. E disso, Sra. Parker, acredite, ainda não há sinais convincentes de sua proximidade.
            - Creio que há passagens na própria Bíblia que contradizem isso... – ela retruca.
            - A Bíblia é um meio de instrução para as pessoas, minha senhora. Mas a verdade é que com o passar dos tempos e com as várias traduções pelas quais passou, ela já não é mais cem por cento correta. Algumas informações se encontram um pouco incoerentes.
            - Mas... – Margareth parece receber uma notícia devastadora.
            - Ela ainda deve ser seguida pelos homens de bem, aqueles que procuram elevar suas almas ao Céu, mas para estudos mais detalhados não é o mais adequado. – Baltus interrompe.
            - Mas o que afligiu minha filha, então?
            - A ação realmente pode ser considerada demoníaca, Sra. Parker. – Baltus emenda – Porém não uma possessão. Isso que chamamos de doença nada mais é que um coração sujo, infestado de pecado e maus sentimentos. Quando uma pessoa chega a esse estágio, sua alma se abre para a influência maligna e aquilo que presenciamos acontece. Agora que ela acordará renovada para a vida, cabe à Sra. alertá-la para que mude de atitude.
            Margareth responde com um olhar de quem realmente impusera real importância nas palavras de Baltus.
            - Já está bastante tarde, a Sra. poderia chamar-nos um táxi? – Livius lhe chama a atenção.
            - Ah sim, claro... – Margareth deixa-os para telefonar.
            - Onde estava com a cabeça, Livius? – pergunta Baltus em tom baixo, pois Margareth estava apenas a uma parede de distância.
            - Em Alice ainda.
            - O que à respeito de Alice, especificamente?
            - Eu disse à Sra. Parker como esperamos que Alice esteja amanhã com base nos diversos casos desses que já tratamos. Só que eu sinto que o caso dela não é como os outros. Me parece algo que nunca tratamos antes.
            - Como não? – Baltus tinha um certo ar de descrédito.
            - A oração que o senhor fez ao fim de tudo, por exemplo! Nunca a ouvi antes.
            - Então o senhor deveria ler mais a Bíblia. Salmo 58.
            - Mas nunca usamos tal Salmo anteriormente...
            - Padre Livius, eu respeito o senhor porque é um excelente padre e por todos os méritos que o trouxeram até onde está hoje. Contudo, é com todo esse respeito que eu temo ter que afirmar para o senhor, que o senhor ainda é muito jovem. Tem muitas coisas que ainda não viu, outras que sequer ouviu falar. Casos como esse da garota Parker aparecem esporadicamente. Eu mesmo já tratei alguns, mas realmente não são muito comuns. São coisas que não deveriam acontecer.
            - Do que o senhor está falando, Padre Baltus? – Livius demonstra-se tenso – O senhor sabe então do que se tratava realmente o caso de Alice?
            - O fato de já ter me deparado com isso antes não quer dizer que eu saiba realmente do que se trata.
            - E o senhor não tem a mínima curiosidade em saber o que é?
            - Curiosidade não é para nós, Padre.
            - Eu digo, no sentido de enriquecer seu conhecimento, de entender a fundo esse tipo diferente de doença...
            - Saber tratá-la para mim já basta.
            - Padre, existe alguma coisa que o senhor não quer me contar?
            Margareth retorna e flagra-os com expressões tensas. Baltus logo alivia suas feições. Livius não se sai tão bem para disfarçar.
            - Estou interrompendo algo? – ela pergunta sem entender o que ali acontecia.
            - Não, senhora. – Baltus responde – Infelizmente eu tinha uma notícia não muito agradável de ordem pessoal para o Padre Livius e não consegui encontrar durante toda a noite momento oportuno para dar-lhe.
            Margareth olha desconsolada para Livius.
            - Permita-me fazer algo pelo senhor... – ela caminha em sua direção, mas logo se contém – Talvez mais um chá e uns biscoitos, ou não sei... O que o senhor precisar...
            Livius se aproxima dela e segura suas mãos.
            - Apenas me prometa que irá manter Alice sob a luz de Deus. – diz ele.
            - Sim, sim... – ela parecia estar emocionada – Eu prometo.
            Uma buzina na rua.
            - Deve ser o nosso táxi. – diz Baltus.
            Margareth agradece mais incontáveis vezes e convida-os para um chá com biscoitos a qualquer momento que quiserem ou puderem visitá-la. Os dois padres agradecem e se retiram, caminhando para o táxi, que aguardava.

            Padre Livius era realmente muito novo para um padre em sua posição. Em plenos vinte e alguns anos de vida já caminhava lado a lado de Baltus, o responsável pela Paróquia de Nossa Senhora dos Aflitos. Baltus já se arrastava pelos corredores daquela igreja há mais de trinta anos, ou seja, desde antes do nascimento de Livius. Agora, beirando seus setenta anos de idade, já pensava em seu retiro, e em incumbir outro padre como pároco daquela igreja. Livius viera de uma cidade vizinha, indicado pelo Bispo, por ter se destacado em sua dedicação, perseverança, vocação e conhecimento, apesar de ser ainda extremamente jovem. Baltus a princípio não gostou da indicação. Imaginou que enviavam um padre jovem apenas para segurá-lo ali por mais tempo, mas ao conhecer Livius, respirou aliviado e agradeceu a Deus por sua chegada, pois a comunidade não poderia ser entregue em melhores mãos. E sendo tão jovem, Livius ficaria ali por bastante tempo, se tudo ocorresse normalmente. Mas Baltus sabia que as coisas não ocorreriam normalmente. Nada ali ocorre normalmente. E talvez, vendo por esse ângulo, a inexperiência por pouca idade de Livius fosse um forte fator negativo. Nossa Senhora dos Aflitos necessita de um pulso firme e não hesitante em sua regência. Alguém sábio, resignado e principalmente, extremamente político. Alguém que realmente conheça os preceitos divinos e satânicos para saber diferenciá-los claramente sem se deixar andar no meio de ambos. E isso preocupava Baltus. Livius ainda precisaria de muita instrução para assumir a paróquia sem sua presença.

            Voltando à paróquia, Baltus e Livius estavam lado a lado no banco traseiro do táxi, mudos.
            - Eu ainda gostaria de ouvir do senhor alguns esclarecimentos. – diz Livius quebrando o silêncio.
            - Eu bem alertei a diocese que a impulsividade típica da jovialidade em alguns momentos sobreporia seu julgamento em detrimento de seu conhecimento e inigualável talento, Padre Livius.
            - O fato de querer entender o que enfrentamos hoje, que está por aí nesse mundo afligindo as pessoas não é impulsividade jovial!
            - Resignação é a única resposta que tenho para o senhor, Padre. Na hora certa as verdades se revelarão.
            - Por que tanto mistério? O que tem por trás disso tudo?
            - Nada que deva interferir na nossa confiança.
            Ouve-se um barulho estranho. Parecia que algo caíra sobre o teto do carro. Livius e o motorista estranham. Mas Baltus é o único que se demonstra realmente preocupado com aquilo.
            - Não pare esse carro por nada! – diz Baltus.
            - Como assim? – pergunta o motorista sem entender.
            - Onde está? – Baltus revirava sua bolsa, ele obviamente procurava algo, mas entre tantas coisas jogadas não encontrava – Ó, meu Deus, onde é que está?
            - O que o senhor procura? – pergunta Livius, também sem nada compreender.
            Outro barulho.
            - Senhor, eu preciso verificar o carro... – diz o motorista.
            - Não pare esse carro por nada, nossas vidas estão em risco! – Baltus estava absolutamente alterado – Algum de vocês tem algum objeto de prata?
            - Prata, eu... Eu acho que não! – Livius estava desnorteado.
            - Pra que o senhor quer prata a essa hora? Eu preciso ver o que aconteceu! – o motorista não entendia nada.
            Baltus avista um isqueiro no painel do carro.
            - Esse isqueiro é de prata? – ele pergunta ao motorista.
            - Sim, mas...
            - Então me dê! – Baltus é imperativo e o motorista lhe entrega.
            - Mas o que o senhor vai fazer com prata? – pergunta Livius.
            A janela do lado de Livius estava aberta. Uma mão extremamente pálida adentra por essa janela, na nítida intenção de rasgar o rosto de Livius com suas afiadas unhas. Baltus age mais rápido e encosta o isqueiro de prata na tal mão. Livius apenas grita assustado. A prata queima a mão invasora, que logo se recolhe. Livius e o motorista ficam embasbacados. Baltus entrega o isqueiro a Livius, que fechava a janela e continua a revirar sua bolsa. Agora, todas as janelas estavam fechadas.
            - Ah! Achei! – diz Baltus triunfante pegando os tais crucifixos que Livius usara em Alice.
            Nesse exato instante, o vidro ao lado do motorista se quebra estrondosamente e a mesma criatura que tentara atacar Livius o ataca. Eram duas mãos como a anterior, uma estava com a queimadura do isqueiro. Elas agarram o motorista pelos ombros e o arrancam para fora do carro pela janela. O carro perde o controle e Livius tenta alcançar a direção. As mãos invadem o carro novamente e, dessa vez, é pelo lado de Baltus. Ele tenta atacá-las com os crucifixos, mas elas são mais rápidas arranhando-lhe e ele os deixa cair. Ouvindo os gritos de Baltus, Livius tenta balançar o carro para a tal criatura cair após desesperadamente assumir a direção, mas é em vão. Baltus consegue recuperar um crucifixo e pressiona-o fortemente contra a outra mão. Um grito de som horrendo ecoa pela rua e as mãos deixam o carro de vez.
            - Entre na igreja! Diz Baltus aos berros.
            - Como assim?
            - Sim, arrebente a porta e entre com o carro, só assim poderemos descer em segurança!
            A igreja já estava visível para Livius, que, sem pestanejar, segue à risca as orientações, de Baltus, entrando a toda velocidade na igreja, arrancando a porta e destruindo diversos bancos. Quando Livius consegue frear o carro, já estavam sob o altar, sob a gigantesca cruz na qual Jesus estava pregado. Livius desce do carro e olha para o estrago deixado para trás. Antes que pudesse voltar-se para Baltus, avista na rua, fora da propriedade da igreja, um ser franzino, extremamente magro, de altura mediana e pele tão branca que chegava a ser meio roxa e coberta de chagas, calvo, com ralos cabelos grisalhos e compridos e uma aparência horrenda, que encarava-os. Percebia-se que todos os dentes lhe eram bastante pontiagudos, principalmente os caninos, que saltavam para fora da boca. Também eram protuberantes e pontudos o nariz, queixo e orelhas. A criatura carregava em um dos braços o corpo retalhado do motorista do táxi.
            - O que é você... – pasmo, antes que Livius pudesse completar sua frase, a criatura baba um filete de sangue e atira algo nele, que se desvia.
            Livius olha para o chão e vê um olho. Ao olhar para fora novamente a criatura já havia desaparecido. Um barulho. Livius olha para trás e nota que a enorme cruz cedia de suas amarras, prestes a despencar a qualquer momento sobre o carro.
            - Livius... – Baltus se arrastava para sair do veículo.
            Livius corre para ajudá-lo e puxa-o de uma só vez para fora do carro, no exato instante em que a cruz cai, esmagando o carro e quebrando-se em várias partes. Livius e Baltus haviam rolado rapidamente para longe do carro, ficando em segurança. O jovem padre logo percebe que o olho atirado pelo ser horroroso pertencia a Baltus.


*          *          *


            - Eu gostaria que você tivesse recebido mais instrução e com mais tempo para deixar a maturidade ensiná-lo a lidar com isso, mas me parece que terei que resumir as coisas para você... – diz Baltus com a voz presa na garganta, em função da dor.
            Livius havia carregado Baltus até seus aposentos. Baltus agora repousava na cama, mas estava ansioso para falar com Livius.
            - O senhor precisa repousar. Eu vou chamar uma ambulância, porque... – Livius ia falar, mas Baltus o interrompe.
            - Já é tarde para isso! – Baltus se faz enérgico – Essa criatura faz parte de uma corja que povoa a Terra desde o início dos tempos. Eles são chamados Nosferatus, Livius, mais conhecidos como vampiros, graças aos filmes que vemos por aí...
            - Padre...
            - Não me interrompa. Tenho muito o que dizer em muito pouco tempo. – Baltus toma fôlego e ajeita-se numa posição um pouco mais confortável – Nosferatus são criaturas opostas aos Homens. Enquanto Deus e o Diabo travam uma disputa pelas nossas almas, ambos renegam esses seres, que vivem nas sombras, se alimentando de nosso sangue.
            Livius estava bastante impressionado com tudo aquilo, mas depois de tudo que viu acontecer, ouvia atentamente às palavras de Baltus, sem descrença.
            - Eles são em tese imortais e são capazes de proliferar sua espécie contaminando um mortal com seu sangue. Quando eu provoquei as queimaduras nesse Nosferatu, ele sangrou. Quando me agrediu eu também sangrei e seu sangue entrou em contato com o meu, sendo assim, em breve eu iniciarei o processo de transformação.
            - Padre, deve haver algum jeito...
            - Eu já pedi para não me interromper! O que você viu hoje na casa da Sra. Parker foi uma transformação vampírica, padre. Porém aquela moça já estava no estágio final. São necessários treze dias para que a transformação se complete e, nesse intervalo, é preciso haver troca sanguínea três vezes: a primeira, na primeira noite, a segunda na sétima noite e a terceira na décima terceira noite. Hoje era a décima segunda noite de Alice Parker e quem quer que a estivesse transformando já havia visitado-a duas vezes. Fomos chamados bem a tempo. Assim, creio eu que tal ataque hoje fora consequência de nossa ação anterior. Alguém deve ter ficado extremamente furioso.
            - O senhor acredita que seja o próprio que nos atacou?
            - Com certeza não. Assim como os cães, existe uma variedade bem grande de Nosferatus, e a essa altura ela já teria assumido certas características físicas vampíricas de quem a estava transformando. Ou seja, se fosse esse que nos atacou o mesmo que a mordera, hoje teríamos visto uma moça quase tão horrenda quanto ele.
            - Isso significa que...
            - Significa que a maldição que recaía sobre ela não era a mesma que recaiu sobre ele. O verdadeiro autor da transformação de Alice Parker ofereceu àquele ser alguma paga em troca de nossas vidas. E ele é tão ardiloso que nem ao motorista quis poupar.
            - O que podemos fazer contra eles, Padre?
            - Não acredite nos filmes, Livius. Existem muitos mitos em torno do que realmente pode matar um Nosferatu. Decapitação é uma boa opção, desde que você se assegure que a cabeça e o corpo jamais se reencontrarão. A famosa estaca no coração é um meio eficaz, mas já ouvi relatos de que no momento em que ela foi retirada a criatura reviveu. Alho e crucifixos só os farão rir de você...
            - Mas os crucifixos hoje...
            - Prata, Livius. Eles são extremamente sensíveis à prata. E por fim, a única real maneira de se acabar definitivamente com eles sem se colocar em maior perigo: a luz do sol. Alguns podem explodir, virar pó... Cada espécie reage de uma forma, mas a luz do sol é a única coisa realmente letal para todos eles.
            - Padre, mas que providências devo tomar agora? Confesso que não sei o que fazer.
            - Assumir meu lugar, filho. Essa paróquia leva o nome de Nossa Senhora dos Aflitos não é à toa. Aqui realizamos um trabalho político muito delicado. Existem organizações sociais de vampiros que simplesmente vivem em meio à Humanidade e não causam problemas assim. Essas organizações, cada qual onde vivem, procuraram algum representante da lei local ou formador de opinião que pudesse mediar essa convivência. Aqui, essa função cabe a nós e é algo totalmente desconhecido do Vaticano. Assim sempre foi e assim sempre será, porque dá certo. Nós cooperamos mantendo a existência de vampiros e suas identidades ocultas e eles cooperam se alimentando apenas de loucos ou moribundos, causando-lhes uma morte rápida e quase sempre indolor e eles se comprometeram a não criar mais vampiros aqui.
            - Mas Alice Parker...
            - Alguém violou o tratado ao tentar transformar Alice Parker. E quando isso ocorre, cabe a nós esconjurar a vítima antes que a transformação se complete e a eles cabe encontrar e eliminar o transgressor.
            - E quanto àquela criatura ardilosa que nos atacou...
            - Essa é uma espécie errante, não faz parte de nenhuma sociedade organizada. Vivem como animais. Livius, é muito importante que você entenda a natureza desses Nosferatus. Daqui para frente, saber quando e como confiar em um deles, será essencial...
            - Quando e como?
            - Não digo “quem” porque um Nosferatu não é confiável. Você precisa aprender a distinguir quando e como poderá fazê-lo, sem colocar sua vida ou a de ninguém mais em risco.
            - Isso é loucura. Como posso distinguir essas criaturas? Eu nunca poderei...
            - Nós dois teremos que confiar em seu julgamento. – Baltus o interrompe – Uma coisa muito importante será uma de suas principais tarefas aqui. Todas as noites de terça-feira, ao exato badalar da meia-noite, um governante dessa sociedade que eu me refiro se encontra com o pároco de Nossa Senhora dos Aflitos para discutirem assuntos pertinentes ao frágil equilíbrio que aqui se mantém. Esses encontros se dão no cemitério que há atrás da paróquia.
            - E como saberei quando posso confiar nele?
            - Você terá que conhecê-lo. Ele estará aqui amanhã, provavelmente já saberá de minha morte e terá novidades sobre nosso mistério. Eles são sempre surpreendentes.
            - Padre Baltus, o senhor ainda tem que me ensinar a esconjurar uma pessoa... morte? – Livius percebe agora as palavras de Baltus. – O senhor está me dizendo que vai...
            - Meu amigo, já te disse. Agora é tarde para mim. E não vamos perder mais tempo. Vê aquele guarda-roupa? – Baltus aponta o móvel no fundo do quarto – Ele tem um fundo falso. Remova-o, que atrás dessa parede existe uma pequena salinha. Nela estão guardados materiais especiais e todo o relato que essa paróquia foi capaz de fazer à respeito dos Nosferatus. Todos os párocos que por aqui passaram desempenharam esse papel e foram muito aplicados em seus relatos. Temos prateleiras cheias de diários. Um bom começo para você é ler os meus, desde o primeiro. Todo ensinamento que poderia eu te dar está registrado nesses diários. E comicamente o senhor aprenderá tudo junto comigo... – Baltus ri – Eu nunca tinha imaginado uma morte como essa. Era óbvio que eu sempre pensei que as maiores chances de perder a vida, era pelas mãos de um Nosferatu, mas todas as vezes que me peguei imaginando isso, eu confesso que meu fim era imensamente mais doloroso e brutal.
            - Padre, o senhor vai resistir.
            - Se eu resistir é sinal que meu corpo absorveu bem o sangue daquele desprezível. Se isso for verdade, significa que eu estou me transformando.
            - Aí eu esconjuro o senhor.
            - Não dará certo. O esconjuro só pode ser realizado entre a oitava e a décima segunda noite, ou seja, entre o segundo e o terceiro encontro com a criatura. E eu não quero me submeter a oito noites de total repudio só para garantir mais alguns meses nessa minha já finda vida...
            - É da sua vida que estamos falando! O dom mais precioso que Deus nos deu! Como o senhor é capaz de desistir assim, sem lutar?
            - Em segundo lugar, Padre Livius, não creio que aquela criatura irá retornar para me doar sangue uma segunda vez, sendo que, primeiramente, para isso eu deveria deixar a igreja. Imagine o senhor como seria eu, num estado parecido com o que viu hoje a senhorita Parker andando pelas ruas do bairro.
            - E o que aconteceria se o senhor começasse a transformação e não recebesse o sangue na sétima noite?
            - Certas respostas eu sou grato por não ter. Mas imagino que não deve ser agradável permanecer no meio do caminho entre a vida e a imortalidade. Entre humano e demônio.
            Silêncio entre os dois. Baltus encara Livius fixamente.
            - Filho, eu quero sua promessa de que se eu começar a me transformar você irá abrir essa janela e arrastar essa cama para baixo dela assim que surgirem os primeiros raios de sol.
            - Eu prometo, padre.
            - Obrigado. Agora eu irei repousar, enquanto aguardo o Anjo do Senhor vir me buscar. E o senhor vá agora mesmo para sala e aprenda tudo o que puder.
            Sem gostar muito das palavras de Baltus, Livius vira-se para sair, quando é interpelado ainda uma última vez por ele:
            - Nos esquecemos da pergunta mais importante...
            - Qual?
            - Como saberá que o visitante de amanhã é realmente aquele com quem converso toda semana?
            - Pretendia eu ler seu diário de semana passada...
            - Não haverá menção a nome algum.
            - Como? Seus diários estão incompletos?
            - Filho, um Nosferatu só revela seu nome de batismo a um mortal caso planeje transformá-lo. Fora isso, apenas codinomes que inventam após a transformação serão fornecidos. Esse visitante se identificará como o enviado da Nosferata, a sociedade vampírica. E ele irá presenteá-lo com algum objeto de prata.
            - Prata?
            - Sim. É uma prova de confiança. Como para ele matá-lo seria simples a qualquer momento, entregar uma arma contra ele próprio é um sinal de confiança que ele te dá.
            - E o que eu devo fazer?
            - Não manter o tal objeto em sua mão. Guarde-o no bolso, caso contrário o vampiro se sentirá ofendido. E acredite, lidar com um vampiro de boa-vontade que se sente ofendido não é uma das tarefas mais fáceis a se cumprir. Ele também irá te pedir um grande favor...
            - Qual?
            - Eu nunca saberia.


*          *          *


            Livius não conseguia dormir. Tudo aquilo era muito para ele em um único dia. Lembrava-se de sua iniciação como Curador de Almas, há alguns anos:

            “Livius estava em uma paróquia suntuosa, aguardando. Saindo da sacristia, vêm um padre de certa idade e um Bispo, aparentando ser mais velho que o padre.
            - Bispo... Padre Julius... – Livius pede pelas bênçãos.
            - Padre Livius, estive ansioso para conhecê-lo. – afirma o Bispo – Todos falam muito bem do senhor.
            - Não faço mais que servir a Deus como prometi, excelência.
            - Contudo, Padre Livius, eu gostaria de me assegurar que o senhor compreende exatamente o teor do trabalho para o qual se inscreveu. A Cura é uma Ordem que não deve ser exposta abertamente aos Homens, Padre. A ela cabe intervir em todos os casos extremos, nos quais velas e orações não se fazem suficientes.
            - Sim, compreendo. Sei também que A Cura é a responsável pelo combate direto a malefícios causados por influência demoníaca.
            - O senhor tem conhecimento dos métodos utilizados em tais ocasiões, Padre Livius?
            - Não senhor. Almejo aprendê-los e praticá-los em nome do Senhor Nosso Pai.
            - Exorcismo. – diz Padre Julius, falando pela primeira vez.
            Livius estranha. Por toda a vida estudara e ouvira dizer nos seminários e mosteiros que a prática do exorcismo era arcaica e abominada, que já havia sido abolida há muito tempo.
            - Perdão, senhor... Mas a abolição do exorcismo das práticas católicas se deu... – Livius tentava se situar.
            - Essa abolição de fato nunca aconteceu. – afirma o Bispo – Houve uma época em que todos os clérigos dominavam a técnica e realizavam o exorcismo. Essa é uma prática extremamente perigosa e traiçoeira. Aquele que ministra exorcismos, a cada paciente carrega dentro de si um pouco daquele mal que curou. Para que sua alma consiga se elevar aos Céus ao final de sua vida, é necessário um ritual totalmente especial de Unção, para purificá-lo novamente.
            - Além de tudo, o exorcismo é uma prática que coloca em alto risco a vida do paciente. – acrescenta Julius.
            - A História de nossa Igreja já é manchada com muito sangue. – o Bispo retoma – Como o exorcismo parecia banalizado, muita gente morria negligenciada e muitos Padres de bravo e nobre espírito queimam hoje no inferno por não receberem a Unção apropriada. Sendo assim, o Vaticano optou por restringir essa prática apenas a um pequeno e seleto grupo...
            - A Cura. – afirma Livius.
            - Sim, meu jovem. – continua o Bispo – Seus membros estão espalhados por todo o mundo e disseminam entre os Homens que a possessão é algo que não existe. A influência demoníaca existe e o grande responsável por isso é o próprio paciente...
            - Mas na verdade a possessão existe...
            - Entre os casos considerados para um exorcismo, padre, apenas um a cada quinze é uma legítima possessão. Às vezes passamos um ano inteiro sem ver uma. – diz Julius.
            - Então a influência é algo que realmente ocorre, não sendo necessariamente uma possessão... – Livius tirava suas conclusões.
            - O importante é que as pessoas não acreditem no exorcismo, Padre. – o Bispo toma a palavra novamente – Mesmo as verdadeiras possessões devem ser tratadas da mesma forma que uma simples influência. Ninguém deve testemunhar um exorcismo e se perguntarem, deve responder que foi uma consulta espiritual. Toda a obra fora feita pelas mãos de Nosso Senhor. O exorcismo deve ser negado a todo custo.
            Livius, calado, apenas digeria toda a informação.
            - Posso me assegurar de que o senhor compreende o real contexto da Cura, Padre Livius? – pergunta o Bispo.
            - Sim, senhor...”

            Livius resolve se levantar e caminhar um pouco. Os frios corredores da igreja não lhe eram nada acolhedores no auge da madrugada. Para de frente à uma janela que dava vista para os fundos da paróquia, onde fica o cemitério. Ali eram enterrados apenas os indigentes e aqueles que não tinham condições de pagar por um túmulo no cemitério da cidade com direito a toda pompa funerária. O padre observava bem o local, como quem se antecede planejando rotas de fuga ou abrigos improvisados, caso necessite. Os sinos badalam três vezes. Por ser um padre exorcista, Livius compreende muito bem o que as três horas da manhã significam a este mundo.

            “- Jesus Cristo morreu às três da tarde... – Padre Julius lecionava a Livius – Portanto Lúcifer e sua corja se deleitam às três da manhã, o horário oposto do dia, em deboche ao sacrifício do Filho de Deus. É importante que o senhor entenda, padre, que na Hora Morta, como é chamado esse horário, nenhum Anjo se mantém na Terra, nenhuma força divina age sobre esse mundo no primeiro quarto de hora à partir das três.
            - E o que Lúcifer intenciona com isso?
            - Não poderíamos e nem deveríamos nos concernir com as maquinações do Diabo, padre. Mas na prática, isso nos afeta de duas maneiras. A primeira é que nesse momento os demônios se tornam mais fortes. Um exorcismo, sendo esse bem sucedido ou não, deve encerrar-se antes desse horário. Eu pessoalmente já vi algumas vidas se perderem por imprudência com as horas. A segunda é que nesse horário, acordado ou dormindo, o senhor, por ser um membro do clero e, principalmente, por ser um membro da Cura, deve estar protegido.
            Julius abre uma gaveta e retira um pequeno terço de ouro, entregando-o a Livius.
            - Mantenha-o sempre com você durante as noites.”

            Livius continuava parado ali, naquela janela, observando o cemitério. Ele tinha em mãos o terço dourado.
            - Ave Maria, cheia de graças o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o fruto de vosso ventre: Jesus...
            Algo interrompe a concentração de Livius em sua oração: ele vê um movimento no cemitério. Um certo pedaço de terra parecia revirar-se e cada vez mais aquela movimentação se torna nítida. Ele observa atentamente até ver que uma mão aparentemente putrefata surge ali. Livius sabia que estava seguro, apesar de estar na Hora Morta. Além de ter em mãos seu amuleto protetor, estava dentro da igreja, há metros de distância da tal mão e no segundo piso. Era muito pouco provável que o que quer que seja que estivesse saindo debaixo da terra o visse ali. Quando a criatura começa a surgir da terra, Livius empalidece. Parecia um cadáver se erguendo. Mas não era um cadáver qualquer, era um cadáver que aparentava alguns séculos, porém, não se decompôs. Será que ele também estava lá atrás deles? Se perguntava completamente confuso e meio que anestesiado com todos aqueles acontecimentos no dia.
            - Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém. – Livius retoma a prece enquanto mantinha os olhos fixos na bizarra cena que se passava lá em baixo.
            Enquanto Livius ainda orava, o tal cadáver põe-se de pé e, como se já soubesse exatamente aonde ir, dirige-se para o fundo do cemitério, no lado oposto da igreja. Caminhando a passos lentos, desaparece em meio à escuridão do pequeno bosque que ali atrás havia.


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Próximo post: 0h do dia 15/02 (terça) p/ o dia 16/02 (quarta)

História original: Mário de Abreu
Escrita por: Mário de Abreu e Junim Ribeiro
Colaboração: Léo Borlido

4 comentários:

  1. Vou chamar esses Padres pra exorcisar o povo da minha faculdade que assiste Big Brother...

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  2. Valeu gente...espero que continuem seguindo....
    Bruno...vc é o do Orkut? Bruno M.?
    junte-se aos seguidores ai....valeu

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  3. Poxa, muito legal essa história, adoro coisas assim sombrias e sobrenaturais, muito bom mesmo!!

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